Publicações
Artigo | “Além do mar cruel...”: Canção do Mar e a neomercantilização do ethos da saudade portuguesa
O doutorando do INET-md, Caio Mourão, publicou recentemente o artigo "'Além do mar cruel...': Canção do Mar e a neomercantilização do ethos da saudade portuguesa", nos Anais do XXXIII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música, realizado em outubro de 2023 em São João del Rei, no Brasil.
Resumo do artigo:
Canção do Mar, no arranjo pop da cantora Dulce Pontes, é, provavelmente, a música portuguesa mais conhecida para além de suas fronteiras. Através da análise deste videoclipe, seguindo a metodologia de Carol Vernalis (2004), percebi que um grande fator para isso é a exploração da ligação do mar com o povo português, especialmente através do ethos da saudade (LOURENÇO, 1999). Apesar desse sentimento de pertença entre este povo e o mar datar do período das Grandes Navegações (séc. XV), é apenas no século XX, com o desenvolvimento da escolaridade, do turismo e da ação de agentes culturais ligados ao patrimônio, que tal sentimento veio a consolidar-se, especialmente através da propaganda, motivada pelo Estado Novo e a Expo 98, onde as artes desempenharam um grande papel (JOÃO, 2015). Além da arquitetura, da literatura, da poesia e da música, especialmente do fado, é essencialmente através do ecrã que esse ethos é largamente difundido. Analiso a versão de Amália Rodrigues para esta canção em Os Amantes do Tejo (1955), filmado na vila da Nazaré́ em Portugal. Em 1993, Dulce Pontes lança seu videoclipe. No ano de 2011, Garrett McNamara entra para o livro dos recordes Guinness, após surfar a maior onda do mundo, na Nazaré, o que promove um enorme crescimento do turismo local. Além de serem totalmente em preto e branco, sugerindo nostalgia, tanto o clipe de Dulce Pontes quanto o filme de Amália destacam o sofrimento da gente do mar, tendo a música e as imagens como os grandes veículos da saudade.