Esta investigação tem como objetivo examinar o contexto musical contracultural na Galiza durante o período entre 1978 e 1988, conhecido como a Movida de Vigo. Este movimento cultural surgiu na cidade galega de Vigo num contexto de declínio industrial, agravamento dos problemas relacionados com as drogas e uma crescente desilusão juvenil. Influenciada pelas estéticas punk e new wave, a Movida de Vigo foi frequentemente considerada uma réplica regional da mais proeminente Movida Madrilena, em Madrid. No entanto, essa simplificação não capta as características únicas e as influências mais amplas que moldaram a cena musical galega.
Embora a Movida de Vigo tenha sido inegavelmente influenciada pelas tendências do restante de Espanha, também se inspirou noutras fontes, nomeadamente no vizinho Portugal e na América Latina. Esta troca transnacional de ideias e géneros é evidente no trabalho de bandas como Siniestro Total, cujo álbum Menos mal que nos queda Portugal (1984) homenageia as ligações com Portugal, e Os Resentidos, que gravaram o álbum Vigo Capital Lisboa (1984) em Lisboa. Para além dessas influências internacionais, a investigação procura também explorar as conexões locais dentro da Galiza, examinando a interação entre a cena da Movida e artistas de outras tradições musicais, como o cantautor Bibiano Morón, e o seu impacto posterior em géneros como o rock bravú.
A investigação considera ainda de que forma estes desenvolvimentos artísticos foram moldados pelas pressões de uma indústria musical cada vez mais centralizada e pelo surgimento das dinâmicas do mercado capitalista, conforme discutido por Attali (1977). Ao desviar o foco da ideia da música galega como mero eco da cena madrilena, este estudo propõe reinterpretar as manifestações culturais do período como parte de uma negociação mais ampla no contexto da transição democrática espanhola.
Adotando a perspetiva de Rancière (2019), o estudo sublinha como os artistas galegos olharam para além dos enquadramentos locais e nacionais para estabelecer conexões com outros horizontes, funcionando como um contrapeso às narrativas dominantes de consenso. Esta abordagem enquadra a música da Movida de Vigo como uma força crítica e desestabilizadora que desafiou a narrativa oficial da transição democrática espanhola. Ao recentrar a perspetiva atlântica, esta investigação reposiciona a música popular galega dentro de um diálogo cultural mais amplo e complexo, enfatizando as suas contribuições singulares para os movimentos subculturais da época.