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Projecto Jazz FCSH
 
Coordenação
 
 
 
 
Parceria
 
Hot Clube de Portugal
 
 
Financiamento
 
FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia
 
 
Referência
 
PTDC/EAT-MMU/121834/2010
 
 
Equipa
 
Katherine Brucher
Jorge de la Barre
 
 
 
Resumo 
 
Apesar de serem conhecidos textos sobre a prática do jazz em Portugal desde a década de 1920 (Curvelo 2002; Duarte 2000; Ferro 1924, 1928), esta temática apenas nos últimos anos começou a ser abordada a partir de uma perspectiva académica (Martins 2006; Roxo e Castelo Branco no prelo; Roxo 2009, 2010). Talvez por esse motivo, as narrativas sobre o jazz em Portugal assentam maioritariamente em mistificações perpetuadas por jornalistas, divulgadores, críticos musicais e outros 'interessados', alguns deles com intervenção directa em eventos e processos centrais para a recepção e a prática do jazz em Portugal, mas cujos discursos e narrativas afiguram-se frequentemente marcadas por leituras subjectivas e laudatórias. Como propõe Roxo (2009: 232), a proliferação de discursos laudatórios e legitimadores têm contribuído para a perpetuação de mistificações de teor primordialista (o primeiro divulgador de jazz, o primeiro clube de jazz), sobre as quais se tem 'construído' a história do jazz em Portugal, ou as narrativas tendentes à sua historização. Esta problematização constitui um ponto de partida para a presente proposta de investigação. Trabalho preliminar desenvolvido por Roxo (idem) e Roxo & Castelo Branco (no prelo) sugere que o termo 'jazz' era, até meados da década de 1940, um conceito vago e dilatado, sujeito a diferenciações locais, e que exprimia genericamente práticas musicais e coreográficas associadas à modernidade da música popular americana, sendo também utilizado para designar grupo musical (o 'jazz', a 'jazz-band') que actuava em bailes, ou mesmo o próprio evento 'baile' (ir ao 'jazz').
 
As acções de divulgação do 'jazz' por parte de Luís Villas-Boas (1924-1999), irão contribuir decisivamente para a delimitação desse conceito, de acordo com discursos e narrativas sobre o jazz que se tornaram dominantes na Europa por acção da crítica francesa mais influente nas décadas de 1930 e 1940. Onze anos após a publicação de Le Jazz Hot (1934), de Hugues Panassié (1912-1974), em França, Villas-Boas procurou adaptar à situação portuguesa estratégias, condutas e definições em torno do jazz, inspiradas no Hot Club de France (fundado em 1932) e nas perspectivas e acções de divulgação de críticos/divulgadores de jazz franceses como Panassié e Charles Delaunay (1911-1988), com os quais viria a manter contactos frequentes e a receber apoio (Santos 2007). Desta forma, Villas-Boas viria a assumir-se como o principal responsável pela formação em Portugal de um campo discursivo em torno do jazz, com fronteiras estéticas (e sociais?) bem definidas, inicialmente alicerçadas no conceito "Jazz Hot" enquanto "verdadeira música jazz". À semelhança de Panassié, Villas-Boas começou por divulgar o "Jazz Hot" no programa de rádio Hot Club, numa perspectiva didáctica, intercalando a audição musical com enquadramentos histórico e social daquele género. Adicionalmente, logo a partir de 1946, iniciou diligências para a formação do Hot Clube de Portugal (HCP), cujos estatutos seriam aprovados em 1950 (vindo a integrar a rede europeia de Hot Clubs), tendo-se mantido em funcionamento ininterrupto até Dez. de 2009. Ao longo das décadas seguintes, Villas-Boas incentivou a prática e o consumo público e privado do "autêntico jazz" através da publicação de artigos de divulgação na imprensa escrita; realização e apresentação de programas de rádio e de televisão; incentivo e angariação de músicos para a prática do jazz entre o meio lisboeta dos night-clubs, das orquestras de música ligeira e entre os marinheiros dos navios americanos ancorados em Lisboa; organização de jam-sessions; importação de discos; fundação de clubes (HCP e Clube Luisiana); produção de fonogramas e gravação de sessões; organização de concertos com músicos portugueses e estrangeiros; organização dos primeiros grandes festivais internacionais de jazz em Portugal; estabelecimento de contactos internacionais e de relações de amizade com músicos e empresários do jazz.
 
Este projecto tem como principal objectivo analisar os processos a partir dos quais Villas-Boas e o HCP vieram a constituir-se como referências fundamentais para a prática do jazz a partir da segunda metade do século XX, marcando de forma decisiva uma parte substancial da recepção e das práticas e em torno do jazz em Portugal. Além de uma equipa de investigação multidisciplinar e internacional, o projecto irá beneficiar da relação de parceria estabelecido entre o INET-MD e o Hot Club de Portugal - instituição que é detentora do vasto espólio de Luís Villas-Boas, para o estudo desse acervo. O projecto pretende assim integrar Portugal e o "caso português" nos debates internacionais sobre a disseminação do jazz pelo mundo e providenciar novo conhecimento sobre o jazz em Portugal no período colonial e pós-colonial.
 
 
Resultados
 
Base de Dados