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SEMINÁRIO PERMANENTE DO GRUPO DE INVESTIGAÇÃO ETNOMUSICOLOGIA E ESTUDOS EM MÚSICA POPULAR

 
 
2023-11-08 | 14H30 | NOVA FCSH, Colégio Almada Negreiros, Campolide (Lisboa)| Sala 208 - Piso 2 | Sala Zoom
 
Entrada livre, presencial e online.
 
Sala Zoom 
 
ID da reunião: 999 0083 0323
Senha: 482082
 

Cancioneiros em Goa: Representações culturais do colonial ao digital

 
 
Eduardo Falcão | INET-md
 
 

Neste seminário apresentarei o trabalho realizado no âmbito do meu doutoramento, que teve como ponto de partida os manuscritos sobre práticas musicais compilados pelo goês Agapito de Miranda (1911-1995). De que modo podemos utilizar estes manuscritos como fonte histórica para a etnomusicologia? O objetivo deste trabalho é fornecer elementos para uma contextualização histórica deste cancioneiro. Com o intuito de “retornar ao passado etnomusicológico” (Bohlman, 2008) a investigação desenvolveu-se no diálogo entre uma análise dos manuscritos e num trabalho de campo intermitente realizado ao longo de 2 anos em Goa. Num contexto multilinguístico e multicultural utilizei o conceito de concorrências (Gunlog Für, 2017) como ferramenta metodológica atenta às várias camadas de significado, às perspectivas concomitantes e à constante recriação de fronteiras que caracterizam as narrativas das práticas musicais em Goa.

 

Nascido em 1911 no então Estado da Índia Portuguesa, Agapito de Miranda compilou em mais de 5000 folios aproximadamente 1400 canções associadas sobretudo aos géneros performativos Mando e Dulpod. Sua trajetória de vida foi dividida em 1961 com a anexação militar de Goa pela recém-independente União Indiana. Este processo histórico transformou a identidade política de Goa de capital do império português na Ásia para um Território da União Indiana e, depois em 1987, para o menor estado da Índia. Redigida em português ao longo de muitos anos a obra de Agapito foi iniciada ainda antes de 1961, contudo, nunca chegou a ser publicada. Com o fim do império português os arquivos estatais foram perdidos, deliberadamente destruídos ou permaneceram inacessíveis; e as relações de poder, assim como as posições que os diversos grupos aí ocupavam se alteraram bruscamente.

 

É neste contexto de separação de Portugal, de integração na Índia e de busca por uma autonomia de Goa que se enquadra a obra de Agapito de Miranda. No período que seguiu a 1961 os imaginários concorrentes sobre as práticas musicais, devido à natureza multidirecional da memória (Rothberg, 2013), foram negociados a partir da construção de cânones e da escrita de narrativas históricas. Posto isto, este trabalho reflete sobre as histórias das representações de práticas musicais e sobre o modo como a partir delas podemos convocar e entender as múltiplas identidades que conformam a realidade plural de Goa.




 
 
Eduardo Falcão | Mestre em História e Património na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e licenciado em História pela Universidade Estadual de Campinas em São Paulo, Brasil. Possui especialização em violão na Escola de Música do Estado de São Paulo. Os seus interesses de investigação incluem práticas musicais e pós-colonialismo; a invenção e representação da tradição. Ele está particularmente interessado em explorar os interstícios entre música, história e a diferença colonial. Participou do projeto de publicação da edição em português da Coleção História Geral da África da UNESCO.