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Seminário GIEHCM | Coleccionadoras de Música: da Corte Setecentista aos Salões Privados do século XX
SEMINÁRIO PERMANENTE EM ESTUDOS HISTÓRICOS E CULTURAIS EM MÚSICA
O Seminário Permanente do grupo de investigação Estudos Históricos e Culturais em Música do INET-md pretende ser um fórum onde todos os seus membros (integrados e colaboradores), bem como outros investigadores e investigadoras do meio académico, cultural e artístico, possam apresentar o seu trabalho e discutir projectos e investigações em curso.
2023.04-27 | 18:00 | FCSH (Av. de Berna) | Torre B | Sala 201
Acesso Livre presencial e online (link ZOOM abaixo)
COLECCIONADORAS DE MÚSICA: DA CORTE SETECENTISTA AOS SALÕES PRIVADOS DO SÉCULO XX
D. Mariana Vitória de Bourbon (1718-1781) e a aquisição de partituras e libretos para a Casa Real: redes familiares e diplomáticas
A paixão pela música de Mariana Vitória de Bourbon (Madrid, 1718 – Lisboa, 1781), infanta de Espanha e mais tarde princesa do Brasil e rainha consorte de Portugal pelo seu casamento com D. José, é testemunhada em muitas das cartas que enviou de Lisboa à sua mãe, Isabel de Farnesio. Desta correspondência emerge o seu gosto por tocar cravo e pelo canto, assim como opiniões sobre interpretações musicais e músicos. Menos conhecida é a sua vertente de colecionadora de partituras e libretos, não obstante alguns estudos recentes apontarem importantes pistas nesse sentido (Montes, 2015; Maione 2018). Ao contrário do que acontece com Maria Bárbara de Bragança e a sua notável biblioteca musical, deixada em testamento a Farinelli, não se conhece um inventário ou uma lista de obras adquiridas ou encomendadas por Mariana Vitória, mas é possível constatar que uma parte substancial das partituras se conserva actualmente na Biblioteca da Ajuda. A correspondência diplomática e familiar (com destaque para as cartas trocadas com seu irmão Carlos, rei de Nápoles e mais tarde Carlos III da Espanha) mostra que solicitava frequentemente o envio para Lisboa das últimas novidades musicais. Outras fontes, subsistentes em arquivos portugueses e espanhóis, contribuem também para demonstrar que Mariana Vitória estabeleceu ligações com diferentes contextos culturais e musicais europeus e teve um papel significativo na constituição do património musical da Casa Real — um contributo que tem sido ofuscado pelo destaque dado ao rei D. José, como patrono da sumptuosa Ópera do Tejo, destruída pelo terramoto de 1755. Nesta comunicação apresenta-se um mapeamento preliminar das redes familiares e diplomáticas de Mariana Vitória e da circulação de partituras de ópera e libretos por esta via, incluindo a identificação de obras concretas. Será ainda brevemente abordada a influência que exerceu sobre as suas quatro filhas, uma vez que pelo menos duas delas (a futura rainha Maria I e Maria Francisca Benedita) viriam a contribuir nos anos seguintes para a ampliação da biblioteca musical da corte.
Da curiosidade intelectual e artística à performance e à divulgação: as colecções musicais de Ema Santos Fonseca (1897-1968)
Alejandro Reyes Lucero
Alejandro Reyes Lucero
Ema Santos Fonseca (Faro, 1897- Lisboa, 1968) foi uma amadora de canto e dinamizadora musical que se destacou especialmente no meio musical lisboeta pelo seu trabalho de difusão de repertórios musicais desconhecidos no contexto do seu projecto de organização de conferências-concerto da “Divulgação Musical” (1923-1940). Tendo iniciado a série de récitas no seu salão particular, Ema Santos Fonseca também promoveu parte desses eventos em espaços tais como o Salão do Conservatório Nacional, a Liga Naval Portuguesa, a Universidade Popular Portuguesa e inclusive a Academia de Amadores de Música. Visto o carácter divulgativo e inovador do projecto, o processo de aquisição de partituras e bibliografia relacionada com as temáticas, os compositores e os estilos musicais escolhidos para serem apresentados, permitiu-lhe constituir uma vasta biblioteca especializada. Só a sua biblioteca pessoal inclui mais de 1500 volumes que abrangem colecções de histórias da música, biografias de compositores, edições limitadas ou raras de música, colecções sobre estética e filosofia da música, uma série de livros especializados na aprendizagem e instrução do canto lírico, assim como publicações sobre música folclórica.
No plano musical, a colecção de partituras utilizadas para a realização de cada um dos 142 concertos da Divulgação Musical enriquece o seu espólio com mais de 1000 obras, quer impressas, quer manuscritas. Nesta comunicação pretendo apresentar os resultados preliminares de um work-in-progress sobre o espólio de Ema Santos Fonseca / Divulgação Musical, reflectindo sobre o modo como a cantora acabou por organizar uma colecção musical especializada (incluindo a sua biblioteca e a sua colecção de partituras) e enquadrando essa reflexão nos três eixos fundamentais da programação do seu projecto: 1 Música de Câmara Moderna; 2 Música Vocal Polifónica da Idade Média e do Renascimento; 3 Música Folclórica/Canção Popular.