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16.10.2021 | 17:00 | Cinemateca
 
 
 
 
A partitura original do compositor Armando Leça (1891-1977), propositadamente escrita para o filme mudo português OS FIDALGOS DA CASA MOURISCA (Georges Pallu, 1920), será interpretada ao vivo pelos Solistas da Metropolitana na Cinemateca, no próximo dia 16 de outubro, às 17h00, assinalando o centenário da estreia deste filme. A partitura de Armando Leça foi reconstituída por uma equipa de musicólogos da NOVA FCSH, no contexto de um projeto de investigação do Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança (INET-md).
Trata-se da continuação de uma parceria estabelecida em 2019 entre a Cinemateca, a Orquestra Metropolitana de Lisboa e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, através do INET-md, e agora renovada com mais dois parceiros – o Coliseu do Porto e a Ágora – Cultura e Desporto E.M. – tendo como objetivo a reconstituição, interpretação ao vivo e gravação das três partituras originais compostas por Armando Leça para filmes da Invicta Film: A ROSA DO ADRO (G. Pallu, 1919), apresentada em 2019 e já editada em DVD pela Cinemateca; OS FIDALGOS DA CASA MOURISCA (G. Pallu, 1920), apresentado este mês; e AMOR DE PERDIÇÃO (G. Pallu, 1921), que será apresentado no próximo mês de novembro, com a participação especial de Nicholas McNair.
 
 
Programa musical
Música para o filme OS FIDALGOS DA CASA MOURISCA, de Georges Pallu (1920)

Compositor: Armando Leça (1891-1977)
Transcrição e edição: Bárbara Carvalho (CESEM - NOVA FCSH)
Revisão: Manuel Deniz Silva (INET-md - NOVA FCSH)
Adaptação da partitura à cópia existente do filme: Bárbara Carvalho e Manuel Deniz Silva
 
 
Solistas da Metropolitana
Filipe Freitas: oboé
Alexêi Tolpygo, José Teixeira: violinos
Irma Skenderi: viola
Ana Cláudia Serrão: violoncelo
Vladimir Kouznetsov: contrabaixo
Coral Tinoco: harpa
Paulo Oliveira: piano
Cesário Costa: direção musical
 
 
Sobre a partitura de Armando Leça
Segunda colaboração de Armando Leça com a Invicta Film, a música de OS FIDALGOS DA CASA MOURISCA (1920) mantém muitos dos elementos que caracterizavam a rapsódia de "cantos e bailados do Douro-Litoral" que o compositor escrevera para acompanhar A ROSA DO ADRO (1919), em particular o recurso à estilização de motivos do cancioneiro popular. Nesta partitura, porém, Leça procurou obter uma maior proximidade entre a música e a imagem, nomeadamente através de temas recorrentes que identificam algumas das personagens e locais da narrativa, assim como pela presença da harpa, instrumento que é tocado no filme por duas das principais protagonistas, Beatriz e Berta. Um dos aspetos mais significativos desta partitura é o facto de Leça ter decidido acompanhar musicalmente a narrativa de um modo descontínuo, ao contrário do que se tornaria prática habitual no cinema mudo dos anos vinte. Assim, as sequências musicais caracterizam apenas alguns dos blocos narrativos do filme, sendo intercaladas por momentos deliberados de silêncio, que reforçam a autonomia do comentário musical e criam uma relação singular entre o som e a imagem.
 
O restauro da partitura de OS FIDALGOS DA CASA MOURISCA foi levado a cabo por uma equipa de musicólogos da NOVA FCSH a partir das fontes existentes no espólio do compositor, conservado na Área de Música da Biblioteca Nacional de Portugal. Estas fontes, que consistem no manuscrito autógrafo de Armando Leça e em diversas cópias manuscritas das partes de cada instrumento, contêm diversas indicações de sincronização. No entanto, estas indicações foram sendo acrescentadas ao longo das diferentes apresentações públicas da partitura em 1921 (Lisboa, Coimbra, Guimarães, Porto) e correspondem aos intertítulos originais do filme e não aos da cópia que chegou até nós, pelo que a presente sincronização resulta do cruzamento e do estudo crítico das diferentes fontes sobreviventes.