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Cristina Fernandes, investigadora integrada do INET-md e coordenadora do seu grupo de investigação Estudos Históricos e Culturais em Música, é autora de um dos capítulos do livro Musica e cultura a Roma: intorno agli studi di Saverio Franchi, editado por Biancamaria Brumana, Galliano Ciliberti e Orietta Sartori, e publicado pela Società Romana di Storia Patria. O livro é uma homenagem ao musicólogo Saverio Franchi (1942-2014), docente nos conservatórios de Perugia e S. Cecilia de Roma e nas Universidades de Perugia e La Sapienza (Roma), a quem se devem importantes pesquisas sobre música, teatro, cultura e sociedade. As suas inúmeras publicações (livros, ensaios e entradas de enciclopédia) incluem obras monumentais dedicadas à história da música e da cultura impressa em Roma e na região do Lácio nos séculos XVI-XVIII. O volume de homenagem reúne 27 ensaios de investigadores italianos e estrangeiros e três contribuições inéditas do próprio Saverio Franchi.
 
 
 
 
 
 
Resumo:
 

Apesar da identificação no início da década de 1990 de alguns libretos dedicados a Nuno da Cunha e Ataíde (1664-1750) e José Pereira de Lacerda (1663-1738), por Claudio Sartorio e Manuel Carlos de Brito, foi principalmente através da minuciosa pesquisa de Saverio Franchi, registada na sua obra essencial Drammaturgia Romana (1997), e mais tarde num artigo sobre as práticas musicais na igreja nacional de Santo António dos Portugueses (em colaboração com Orietta Sartori), que nos apercebemos da importância dos dois cardeais portugueses no âmbito da música e das artes performativas. Este capítulo estabelece diálogo com a investigação de Franchi e amplia alguns dos caminhos por ele abertos. Fontes de arquivo que se encontram em Roma, Lisboa e Toledo contribuem para fornecer novos olhares sobre o papel da música e das artes nas obrigações dos cardeais, inerentes à representação política e eclesiástica, assim como sobre as redes artísticas e de sociabilidade que estabeleceram. Em 1721, Cunha e Lacerda viajara para Roma a fim de participar no conclave que elegeu Miguel Ângelo Conti (antigo núncio em Portugal) como Papa Inocêncio XIII. Tal como os embaixadores e outros agentes diplomáticos, rapidamente assimilaram as principais características da sociedade romana e assumiram um papel fundamental na representação da Coroa Portuguesa. Para além do investimento artístico e cerimonial praticado nas suas igrejas titulares (Sant’Anastasia e Santa Susanna), tornaram-se membros da Accademia dell’Arcadia e foram promotores e comitentes de obras musicais executadas nas suas residências e noutros locais (como a igreja de Sant’Antonio dei Portoghesi, o Collegio Romano, o Collegio Clementino ou o Teatro Capranica), envolvendo compositores como Alessandro Scarlatti, Carlo Cesarini, Francesco Gasparini, Giuseppe Orlandini e Giuseppe Amadori. O estudo discute ainda o impacto da experiência romana após o regresso a Lisboa e as motivações (estratégia política ou gosto musical?) que teriam estado por detrás das suas acções.