Nota Biográfica
Nascido em 1989, em Trento, Itália, Andrea Musio formou-se em oboé, no Conservatório de Trento, em Filosofia na Universitá degli Studi di Torino e é mestre em Etnomusicologia pela Universidade Nova de Lisboa, com uma dissertação centrada na produção cultural e na encenação moral entre o sistema de radiodifusão das duas últimas décadas do «Estado Novo» e a «canção ligeira» italiana produzida no início pelo Festival de Sanremo. É doutorando em Etnomusicologia no Departamento de Ciências Musicais da FCSH/NOVA com uma proposta de investigação dedicada ao estudo da música Pimba e a sua relação com as comunidades emigrantes, as festas populares e o sistema musical em Portugal e na Europa. As suas áreas de interesse são também estudos culturais e da performance, música popular e nacionalismo, mobilidade e migração, entre outros. É também músico e poli-instrumentista, que toca em diversas bandas e projetos entre Portugal e Itália e é um compositor ativo.
Projeto de Doutoramento
Título
Um Arraial sem Pimba é como uma Bifana sem Mostarda: Representação Expressiva, Intimidade e Paródia na Música Pimba em Portugal no Século 21
Orientação
Resumo
Proponho uma interpretação etnomusicológica da música pimba portuguesa na sua relação com a indústria musical e a população, relativamente às formas de entretenimento de camadas populares focando o assunto sobre as dinâmicas de lazer e paródia em contextos de festas urbanas e rurais e nos media comerciais. Analiso desafios nas ligações entre inovações e tendências musicais contemporâneas cosmopolitas e formas domésticas e «tradicionais» de espaços de sociabilidade e de identidade cultural particulares. A relevância social da pimba depende da sua importância económica e mediática, inserindo-se no enredo nacional português enquanto forma de múltiplas – e multiformes – expressões do mercado musical através do elemento cultural. Na minha pesquisa, além de indagar e esclarecer elementos estruturais e composicionais, confronto o estilo pimba com as suas forças centrífugas, isto é, enquanto expressão musical inserida na dimensão do evento performativo popular, revelando instâncias interpretativas relacionadas com a intimidade cultural, as narrativas quotidianas afetivas, a digitalização e as lógicas de promoção industriais. Jane Sugarman (2007) e outros, analisaram casos de popular music onde a democracia e o mercado livre desafiaram o papel das elites enquanto árbitros da cultura, algo que sobressai também na pimba através de dualismos que esta propõe, conscientemente ou não, tais como popular/elite, urbano/rural, questões de género, nacional/cosmopolitismo, memória/nostalgia, ironia/paródia, entre outros. Os contributos dos Popular Music Studies fertilizam por via teórica o terreno da música pimba em áreas como distribuição massiva para um público heterogéneo, ausência de estruturas composicionais escritas, comercialização da música enquanto produto de consumo e comodidade. As componentes eminentemente populares da pimba – as festas, o baile, as letras das canções, os locais e os contextos de performação, a promoção dos artistas, etc. – são interpretados no quadro da indústria musical e da sociedade técnica em que se inserem, não apenas nas «fronteiras» da festa popular. Os espaços das festas urbanas e rurais são considerados neste estudo como manifestações de poder onde o público é protagonista, e a sua participação se interliga a esquemas programados de negociação e encenação de intimidade em formas expressivas efémeras de cidadania. O artista pimba, através do potencial intertextual da ironia e da paródia, personifica emoções e veicula memórias encorpadas no cotidiano popular. O entretenimento e o lazer popular tornam-se, portanto, veículos de experiências identitárias concretas em espaços locais como em contextos urbanos e internacionais, sublinhando a importância de uma análise académica das suas funções.
Palavras-chave: música pimba, intimidade cultural, indústria musical, cultura expressiva, paródia, Popular Music Studies.
Financiamento: Fundação para a Ciência e a Tecnologia, refs. PD/BD/135574/2018 e COVID/BD/152054/2021