Nota Biográfica
Nascido a 25 de maio na Beira (Moçambique), é Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (Brasil, 2004) e Mestre em Estudos Africanos e Étnicos pela Universidade do Estado da Bahia (Brasil, 2010). Desde 2007, actua como investigador na área de Etnomusicologia no ARPAC – Instituto de Pesquisas Sociais e Culturais, uma organização do Ministério da Cultura e Turismo de Moçambique. Paralelamente a uma vasta experiência de trabalho de campo, tem desenvolvido diversas actividades no âmbito da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial (Unesco, 2003) no país e no estrangeiro, em Angola, Brasil, Zimbabué e Argélia.
Atualmente, é doutorando em Ciências Musicais (Etnomusicologia) na Universidade Nova de Lisboa (Portugal). Dando seguimento às áreas de atuação académica e profissional, desde 2018, tornou-se Liaison Officer do ICTM - International Council for Traditional Music – em Moçambique.
Projeto de Doutoramento
Título
Xigubo: construção da Nação e a dimensão social da dança no sul de Moçambique
Orientação
Resumo
O xigubo é uma expressão cultural enquadrada no conjunto das chamadas “danças guerreiras” características da zona Sul de Moçambique, praticadas pelos diversos povos da região (incluindo países vizinhos, como a África do Sul e o reino de Eswatini). Trata-se de danças nas quais, através da coreografia, da indumentária e adereços associados, do ritmo intenso e dos cantos bélicos, são dramatizados o combate militar e o espírito guerreiro dos antepassados. A presente pesquisa aborda o seu papel no processo de socialização dos indivíduos nesta região do país, especialmente do ponto de vista da narrativa discursiva patente no processo de construção da Nação, iniciado a partir da independência, em Junho de 1975. Tal processo inclui o lugar atribuído a esta prática no esforço de mobilização política desencadeado desde então, no âmbito das políticas culturais moçambicanas, tomando em consideração as diferentes formas como a própria sociedade reagiu às mesmas.
Em linhas gerais, o presente estudo defende que, se por um lado, o xigubo beneficiou-se de particular visibilidade e condições de disseminação por conta da sua inclusão no discurso ideológico nacionalista, por outro lado, os indivíduos apropriaram-se desta prática cultural, ressignificando-a sob diversos aspetos. Seja por via da transformação, ampliação ou até mesmo, subversão dos seus conteúdos discursivos, a configuração contemporânea do xigubo reflete a emergência de processos de mudança social vivenciados pela sociedade moçambicana. Neste sentido, creio que o estudo dos processos criativos – estéticos, discursivos e ideológicos - subjacentes à tal configuração são reveladores da agência criativa dos indivíduos face a processos de socialização orientados por agendas institucionais pré-definidas e totalizantes; tal como é o caso de projetos de construção de identidade nacional.
Uma abordagem do xigubo a partir da etnografia da sua prática em diferentes contextos, da descrição musical (através da prática e coreográfica) da análise de documentação histórica e institucional, bem como de entrevistas com os principais intervenientes à volta desta expressão cultural, pode trazer elementos elucidativos dos seus diversos significados enquanto forma artística, bom como uma contribuição para o próprio campo das políticas culturais nacionais. Sobre este último aspetos, destaca-se a potencial contribuição para a sustentação da sua candidatura a “património da Humanidade”, como consta nos planos de governo de Moçambique, na área da Cultura.
Palavras-chave: Xigubo; Moçambique; construção da Nação; património cultural.
Financiamento: Fundação para a Ciência e a Tecnologia (PD/BD/150596/2020)