Nota Biográfica
É licenciada em Ciências Musicais pela Faculdade de Letras e Filosofia da Universidade de Palermo (Itália) e mestre em Etnomusicologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Doutoranda no Programa Doutoral Música como Cultura e Cognição, na mesma faculdade, foi bolseira da Fundação para a Ciência e a Tecnologia e Ensino Superior (FCT-MCTES). Em Portugal tem estudado as práticas musicais em torno do adufe, na Beira-Baixa, e, no âmbito do mestrado, tem dedicado a sua investigação às relações entre música, memória e processos migratórios, focando as práticas expressivas entre os “migrantes da descolonização” angolana. Para o doutoramento está a investigar a prática expressiva da timbila presente principalmente no sul de Moçambique. Tem integrado dois projetos de investigação no INET-md : Timbila, Makwayela e Marrabenta: um século de representação musical de Moçambique (PTDC/CPC-MMU/6626/2014) e Etnomusicologia e tecnologia de Acústica Musical ao serviço da restituição da coleção de Timbila do Museu Nacional de Etnologia (32568). Desde 2021, é Presidente da Associação Quintal – Laboratório de Artes e Pesquisa Participativa, sedeada na Itália, e dedicada às interseções entre artes e etnografia e à investigação aplicada.
Projecto de Doutoramento
Título
“Para tocar timbila deves sonhar com ela”: Dialogismos, Intimidade Cultural e Reciprocidade no sul de Moçambique
Orientador
Resumo
A Timbila é uma prática expressiva presente no Sul de Moçambique, especialmente no distrito de Zavala. Revela uma ligação dinâmica entre performance, cultura e meio ambiente e oferece um ponto de vista privilegiado para compreender a mudança das políticas culturais no país desde o período colonial até à independência e nos dias de hoje, desde a proclamação à Obra-Prima do Património Oral e Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2005.
Estudos extensivos da timbila foram levados a cabo por Hugh e Andrew Tracey durante o século XX e até hoje representem as investigações mais apuradas neste âmbito. A partir dessas sugestões será apresentado um estudo contemporâneo da timbila analisando não somente as transformações pelas quais a prática expressiva passou, mas também as relações dialógicas existentes entre tocadores, dançarinos, instituições e a “comunidade” mais ampla.
Esta dissertação divide-se em três partes. A primeira parte aborda a trajetória colonial e pós-colonial da prática expressiva da timbila repercorrendo os processos históricos dos quais foi protagonista e as formas como foi moldada pelas diferentes políticas culturais ao longo do tempo.
Na segunda parte será abordado o estudo do n’godo, o principal género performativo praticado pelos tocadores e dançarinos de timbila e caraterizado pela copresença de música, dança e canto. Uma densa etnografia conduzida entre o distrito de Zavala e Maputo permitiu entender a timbila como um sistema dinâmico assente na noção de “reciprocidade” tanto a nível performativo, como social. Presente na vida local em diferentes rituais de carater particular, a timbila é constantemente invocada também a nível estatal e politico. A analise de diferentes ocasiões performativas permitirá entender o papel da timbila em diversos contextos sociais e as múltiplas interações entre público e privado e as formas como a prática expressiva reforça elos comunitários locais e ao mesmo tempo a dialoga com a ideologia estatal em Moçambique.
A terceira parte problematiza o tema da “restituição” na investigação, descrevendo algumas ações que visam disponibilizar e tornar acessíveis acervos bibliográficos e audiovisuais, tanto históricos, bem como os resultados da presente pesquisa. Será portanto ilustrado o arquivo fonográfico dedicado à timbila realizado por António Rita-Ferreira, consultável na base dados de acesso aberto INET-moz – Base de dados de música em Moçambique e alguns excertos audiovisuais realizados a partir do material coletado durante o meu trabalho de campo.
Palavras-chave: Timbila, Moçambique, Chopes, Política cultural, Performance, Arquivo.
Financiamento: Fundação para a Ciência e a Tecnologia (PD/BD/128497/2017)