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Este é um estudo etnográfico resultante de trabalho de campo realizado, entre 2021 e 2023, junto das comunidades Huni Kuin (Cashinahua) residentes no lado peruano fronteiriço entre o Peru e o Brasil, na região amazónica. Centrando-me nos cânticos de ayahuasca (nixi pae) executados durante as sessões ritualísticas, analiso o papel integral destes cânticos nas práticas espirituais da comunidade. De acordo com estudos anteriores, a cura, enquanto cura de doenças físicas, não tem sido o objetivo principal das sessões de ayahuasca para os Huni Kuin peruanos. O meu argumento centra-se na noção de que estes rituais servem principalmente as funções de promoção da coesão social e de manutenção do tecido espiritual da comunidade. A cura, na sua visão do mundo, é concebida como um processo transformador - um alinhamento em direção à totalidade e ao equilíbrio. Esta viagem transformadora é encapsulada no conceito de xinan, caracterizado como uma consciência integradora, mediada e proporcionada através de experiências durante as cerimónias de ayahuasca, outros rituais comunitários e a vida quotidiana. Desde a década de 1960, os missionários têm sido, na ausência de outros agentes de mudança, como o Estado, as empresas e os turistas, os principais geradores de transformações na sociedade Huni Kuin na altamente isolada região peruana de Purús. A diminuição da presença de anciãos detentores de conhecimentos espirituais e a redução da frequência dos rituais comunitários levaram a uma mudança na visão de mundo pela comunidade, do espiritual para o secular. Esta transição teve, consequentemente, impacto no equilíbrio da comunidade, afectando as suas capacidades colectivas de auto-cura. Neste contexto, o presente estudo reavalia categorias antropológicas como o xamanismo, a performance, o ritual, a cura e os sistemas cosmológicos. Também explora de que modo os conceitos de doença e cura são conceptualizados dentro da perspetiva única dos Huni Kuin.