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SEMINÁRIO PERMANENTE EM ESTUDOS HISTÓRICOS E CULTURAIS EM MÚSICA
 
O Seminário Permanente do grupo de investigação Estudos Históricos e Culturais em Música do INET-md pretende ser um fórum onde todos os seus membros (integrados e colaboradores), bem como outros investigadores e investigadoras do meio académico, cultural e artístico, possam apresentar o seu trabalho e discutir projectos e investigações em curso.
 
 
21-03-2024 | 18:00 | Colégio Almada Negreiros, NOVA FCSH | Sala 209 - Piso 2
 
Acesso livre, presencial e online:
 
Sala Zoom
ID da reunião: 938 7881 8576
Senha: 632731
 
 
 
O Fado no Brasil oitocentista: Uma reavaliação de uma prática esquecida com base em nova fundamentação histórica
 
Rui Vieira Nery | INET-md, NOVA FCSH
 
Desde há muito tempo que está identificado um número significativo de fontes históricas que demonstram indiscutivelmente que as primeiras manifestações da prática do Fado como dança cantada tiveram lugar no Brasil colonial nos primeiros anos do século XIX, antes da chegada do género a Lisboa no final da década de 1820. Era geralmente admitido, no entanto, que o Fado tinha desaparecido gradualmente dos principais centros urbanos do Brasil logo após o seu estabelecimento em Portugal, e que só a sua linhagem portuguesa tinha sobrevivido. O estudo sistemático da imprensa e da literatura brasileiras do século XIX revela, contudo, claramente que o Fado permaneceu como um dos géneros mais relevantes da música popular brasileira durante todo esse período, tanto nas zonas rurais da Bahia, de Minas Gerais e de Salvador como no contexto urbano do Rio de Janeiro, até inícios do século XX. Profundamente enraizado nas comunidades afro-brasileiras, e enquanto tal sob constante vigilância da polícia e das autoridades como uma prática potencialmente subversiva, o Fado depressa se estendeu aos salões das classes médias, e na segunda metade do século converteu-se mesmo numa componente essencial do teatro musical. Na viragem do século, sob a influência dos novos contingentes de migrantes negros vindos da Bahia, foi, em última análise, uma das várias tradições afro-americanas, como o Lundu, o Cateretê ou o Maxixe, que convergiram no novo género do Samba no início do século XX. E este processo coincidiu com a chegada do Fado português ao Brasil, trazido por imigrantes de Portugal que se estabeleceram nos bairros pobres do Rio de Janeiro já desde a década de 1870.
 
 
Rui Vieira Nery | Nasceu em Lisboa em 1957. É licenciado em História pela Universidade de Lisboa e doutorado em Musicologia pela Universidade do Texas em Austin. É atualmente Professor Associado da Universidade Nova de Lisboa e Consultor do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian, de que foi durante vários anos Diretor Cultural. É autor de uma vasta bibliografia que cobre várias áreas de investigação, da Música Antiga ibérica e latino-americana aos estudos de Música Popular portuguesa e brasileira e às questões ligadas ao debate sobre políticas culturais públicas. Entre outras distinções, é Comendador da Ordem do Infante D. Henrique e recebeu a Medalha de Ouro da Câmara Municipal de Lisboa, o Prémio Universidade de Coimbra, o título de Distinguished Alumnus da Universidade do Texas e o Prémio de Património Imaterial do Centro Internacional de Conservação do Património Cultural, e é membro da Academia das Ciências de Lisboa, da Academia Portuguesa da História, da Academia Nacional de Belas-Artes e da Academia de Marinha, bem como do PEN Clube de Portugal e do Brasil e do Parlamento Cultural Europeu.