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SEMINÁRIO PERMANENTE DO GRUPO DE INVESTIGAÇÃO ETNOMUSICOLOGIA E ESTUDOS EM MÚSICA POPULAR
 
 
2024-01-10 | 15h00 | NOVA FCSH, Colégio Almada Negreiros, Campolide (Lisboa) | Sala 208 - Piso 2 | Sala Zoom 
 
Entrada livre, presencial e online.
 
 
 
As ressonâncias do Outro: Interações sociais na educação musical em contextos desfavorecidos da América Latina e Europa
 
Alix Didier Sarrouy | INET-md
 

Se a Etnomusicologia visa abrir-se à cultura do Outro para estar in situ a experienciar a música e os sons que produz, o meu trabalho tem um paradoxo: vou ao encontro do Outro para estudar a forma como aprende/toca um género e um formato musical que têm origens europeias (supostamente). Baseado em trabalho etnográfico na América Latina (com jovens em situação de pobreza urbana) e na Europa (com migrantes e refugiados menores de idade), irei focar na importância do contexto cultural para melhor compreender como os atores da educação musical podem conseguir fazer ressoar os corpos de todos os que nela estão envolvidos: alunos, professores, assistentes, diretores, encarregados de educação… e os objetos também!

 

 

Se a Etnomusicologia visa abrir-se à cultura do Outro para estar in situ a experienciar a música e os sons que produz, o meu trabalho tem um paradoxo: vou ao encontro do Outro para estudar a forma como aprende e tocar um género e um formato musical que têm origens europeias (supostamente). É o caso dos programas de educação musical El Sistema na Venezuela e Neojiba no Brasil quando se servem do ensino da música orquestral como ferramenta de educação, emancipação e cidadania com jovens em contextos socioeconómicos desfavorecidos (Sarrouy, 2022). Mas cada território tem a sua forma idiossincrática de ensinar e tocar géneros musicais. A cultura dos estudantes tem um forte impacto na sua forma de aprender e fazer música. O próprio repertório orquestral vai muito além dos compositores que o nutriram ao longo de séculos no Norte-Global. O Sul-Global está repleto de compositores, de interpretes e de pedagogos que continuam a influenciar todo este mundo das artes musicais. A conexão entre as chamadas “musicas populares” e as “músicas eruditas” é profunda (i.e: Bartók, Manuel de Falla, Arturo Marquez, Villa Lobos…).
 
Por outro lado, a disciplina com que me aproximei dos vários campos de estudo na Europa e na América Latina foi primeiramente a Sociologia da Música. Com uma forte base antropológica e aplicando métodos de etnografia densa, atenta às microssociologias do quotidiano, proponho voltar à base que são os vários “atores da educação musical”: alunos, professores, assistentes, diretores, encarregados de educação… e os objetos também! Em que contextos se desenvolvem as suas interações sociais e de que forma são afetadas pelos mesmos?
 
Por fim, gostaria de terminar o seminário referindo-me ao meu mais recente trabalho de investigação “YOUSOUND – A educação musical como ferramenta de inclusão social para migrantes e refugiados menores de idade na Europa” (www.yousound.eu). Trata-se aqui de outros encontros: desta vez o Outro foi “forçado” a migrar para a Europa e aí é-lhe proposto tocar música orquestral para contribuir à sua inclusão/integração social. Como veremos, o mais importante não é o género musical, mas sim a natureza, a qualidade e a durabilidade dos contextos de interação social onde ressoam os Seres Humanos.
 
 
 
Alix Didier SarrouyMúsico e doutorado em Sociologia das Artes pela Université Sorbonne Nouvelle e pela Universidade do Minho. Investigador integrado no Instituto de Etnomusicologia, NOVA.FCSH (CEEC júnior). Investigador principal do projeto "YouSound — Educação musical como ferramenta de inclusão de refugiados menores de idade na Europa”. Em 2022 publica dois livros: coeditor de “A arte de construir cidadania: juventude, práticas criativas e ativismo” (Ed. Tinta da China); e autor de “Atores da educação musical: etnografia nos programas socioculturais El Sistema, Neojiba, Orquestra Geração” (Ed. Húmus, CICS.NOVA).